BEBÊ ARCO-ÍRIS: do luto à maternidade

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Escola da Parentalidade

“Bebê arco-íris” é o termo dado a um bebê que nasce depois de seus pais terem vivenciado a perda de um filho durante a gestação ou após o nascimento. Por este motivo, simboliza um arco-íris, que vem após uma tempestade.
Não é de conhecimento público o autor desta definição ou criador deste termo; porém, o conceito tem se disseminado mundo afora pelas redes sociais.

Milhares de mulheres vivenciaram a perda do bebê arco-íris, no período gestacional ou neonatal. Muitas, em seguida buscam por uma nova gestação tiveram maior visibilidade, assim como sua dor e as relações que estabelece com essa nova gestação. Com o objetivo de investigar a dinâmica psíquica em mães que vivenciaram deste processo, a autora realizou um estudo. Sendo assim, aqui serão apresentados alguns resultados desta pesquisa. A intensão de ampliar e dar continuidade a essa discussão para além dos muros da universidade.

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A maternidade

Compreende-se que a elaboração completa da experiência do nascimento seguido de morte está envolta por diversos fatores. Historicamente, o papel da maternidade foi construído a partir da visão da mulher biologicamente pré-determinada a gestar, consequentemente criada para cuidar.

Tal papel pode ser associado a idealização da completude da feminilidade. Ao longo da história, a maternidade se configurou como a única função valorizada socialmente. Função que se constitui como a sua identidade principal, pois permitia à mulher ser reconhecida.
Assim, ser mãe seria pertencer a um lugar fundamental de aparente consideração social. A partir da construção de um discurso que a culpará e a ameaçará, caso não cumpra o seu dever materno dito natural e espontâneo. Diante disso, percebe-se que a perda de um filho tem representação de fracasso para a mulher mediante aspectos construídos socialmente sobre os mitos da maternidade.

No que se refere ao âmbito do conhecimento Psi, a maternidade, para Winnicott (1956) é uma condição psicológica especial. Boa parte das mulheres realiza um investimento afetivo gradual em seu bebê, mesmo no início da gestação.
Refere-se a um processo de preparação para a execução da função materna. A mãe contrai a aptidão de destinar para o bebê a atenção e o interesse antes direcionados aos diversos objetos de sua vida produtiva.

Essa preocupação materna de adaptar seu próprio interesse e/ou, sua própria vida se faz possível devido ao processo de identificação com o bebê. A mãe abandona a si própria com a confiança de que o filho que ela idealiza a levará, também, a um lugar idealizado. Para ela, sem ele, não seria possível, pois ambos nesse momento estão integrados.
Pois, encontra satisfação em cumprir social e historicamente o papel que lhe foi destinado. Nesse sentido, se espera que essa condição especial termine ao final do período gestacional. Pois a mãe irá alegrar-se com seu produto perfeito – o filho.

Os traumas da perda de um bebê arco-íris

Entretanto, no percurso de um momento ao outro, um nascimento, ao avesso da vida poderá ser acompanhado de morte. Se esse fenômeno último acontece com uma mãe, que claramente vinha desenvolvendo uma condição de preocupação primária materna, e se defronta, com a notificação da morte do filho, nessa circunstância, interpreta ter sido impedida de continuar a ser mãe. Esse impedimento é resultado de um rompimento repentino da unidade mãe-bebê e, desta mulher, com tudo que havia prescrito para si mesma, ou seja, todo o seu futuro já construído e seu lugar almejado.

Assim, vivencia uma experiência de aniquilamento, como quem perde uma parte de si e/ou seu objeto de amor. Diante da ruptura abrupta da maternidade a questão problemática, revela-se, referente a impossibilidade de manutenção dos vínculos afetuosos dirigidos da mãe ao filho. Nesta circunstância não chega a existir concretamente, mas que outrora existia, em um estado idealizado, e, tais expectativas foram destruídas com a morte do bebê. Esta situação implica em um processo psíquico penoso, restando apenas a dor da perda. É um acontecimento traumático real que abala os alicerces da vida da mãe enlutada. Exige estratégias psíquicas para seguir com a vida, entretanto, no momento encontra dificuldades significativas em colocá-las em prática.

Enquanto algumas mães nessa circunstância de perda, reagem de maneira a elaborar o luto, outras podem desencadear certa patologia. Isso ocorre por não obterem habilidades para sair desta condição, abrindo as comportas para uma ferida melancólica. Acontece a ponto de abandonar todo interesse pelo presente e pelo futuro e manter se permanentemente absorvida na concentração mental do passado. A mãe enlutada e frustrada perde o sentindo da vida, não se vê em outra função, a não ser na materna. Dessa forma, percebe-se uma fixação no objeto de amor, o bebê, pois é por meio dele que se concretiza a maternidade.

A importância de um acompanhamento

Por esses fatores, considera-se que a busca por uma nova gestação se baseia na estratégia de reparação do objeto perdido, como pode ser analisado na replicação da escolha do nome do bebê. Posto isso, reconhecemos que o fenômeno do “bebê arco-íris” pode estar relacionado a um fator patológico, bem como pode se tratar da saída do processo melancólico, como forma de recuperação desta condição. Entretanto, não se dispensa o acompanhamento psicológico, como o tratamento mais adequado para este processo tão doloroso que se trata a experiência do nascimento seguido de morte vivenciado por mães de “bebês arco-íris”.

Quanto a atuação profissional diante de casos como estes, o que nos confere senão sustentarmos a angústia desses pais e no momento oportuno devolve-la a eles? Afinal a experiência tão dolorosa da perda pode  colocar-nos numa condição inconsciente de nós mesmos.  Ao profissional da área reconhecemos a sensibilidade de olhar o sofrimento do outro nos mínimos detalhes. Indagações de como transformar tamanho dor e/ou sintoma em gozo novamente, pode permitir às pessoas que passarem por nós ressignificarem suas histórias, atribuindo um novo sentido. A medida em que as acompanhamos, as permitimos maior flexibilidade diante da vida, no sentido de desfazer angústias e amarrações que as paralisam e adoecem, a partir do conhecimento delas mesmas e seus caminhos são liberados.

 

 

Thaís Abreu, graduada em Psicologia

pela Universidade de Taubaté (UNITAU) .

 

 

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