Como apoiar famílias em adaptação para a chegada de um filho

mãe recebe apoio de profissional da parentalidade para a chegada do filho
Escola da Parentalidade

Não é novidade que a chegada de uma criança gera uma série de transformações nas relações familiares. Veja abaixo algumas ações que podem ser mobilizadas pelos profissionais da parentalidade no apoio emocional de famílias em constituição.

Os profissionais da parentalidade no atendimento a família 

Durante as fases do ciclo gravídico-puerperal, a gestante pode estar em contato com profissionais de diversas áreas de atuação.

Lembre-se: são profissionais da parentalidade aqueles que assistem os pais, responsáveis e todos os envolvidos no desenvolvimento da gestante, da criança e da família – doulas, obstetras, fisioterapeutas, até mesmo instrutores de yoga ou pilates que atuam com gestantes.

Isso significa que esses profissionais também devem ter um conhecimento adequado e compreender os aspectos emocionais de famílias em constituição, visto que eles trabalham direta ou indiretamente com o desenvolvimento da parentalidade através dos diferentes cuidados – físico, biológico ou emocional.

O apoio desses profissionais se estrutura em rede – são as chamadas redes de apoio – e tem como objetivo auxiliar a parentalidade dentro das famílias, melhorando o relacionamento interpessoal e social de seus membros e social durante o desempenho de suas funções individuais.

Dito isso, a responsabilidade de orientar famílias não se restringe a psicólogos, pois esse cuidado também deve ser oferecido por profissionais da parentalidade que atuam em diferentes áreas do conhecimento.

Contudo, todos os profissionais que trabalham diretamente com gestantes devem considerar os aspectos biológicos da mulher para uma abordagem mais compreensiva.

É fundamental entender a fisiologia da gestação para compreender como ocorre o desenvolvimento do corpo feminino, visto que as mudanças no corpo gestante afetam as emoções e as relações sociais protagonizadas pela mulher. 

Também é uma função do psicólogo estar atento à construção social ao redor do nascimento e do corpo da mulher, além de escutar as demandas da gestante. No primeiro contato, cabe a este profissional específico fazer uma anamnese para descobrir sobre doenças no histórico familiar e as condições físicas de quem procura seus serviços.

No entanto, é responsabilidade de todo profissional ter conhecimento sobre a saúde integral do seu público, principalmente quando se trabalha diretamente com gestantes. 

As transformações familiares com a chegada de uma criança

Assim postula Maria Tereza Maldonado, psicóloga perinatal há 50 anos, sobre a parentalidade: “o conceito de felicidade atual se refere à construção de um estado de serenidade interna para enfrentar os tempos difíceis.”1

Nesse sentido, a parentalidade deve ser compreendida como um processo específico e complexo, em desenvolvimento contínuo, que compreende as transformações e adaptações familiares decorrente da chegada de uma criança, independente do meio pelo qual ela foi concebida.

Veja abaixo alguns temas relevantes para trabalhar na abordagem de famílias em transformação.

  • A idealização do bebê

Ao longo da gravidez, a mãe idealiza um bebê que é sempre diferente da criança que vem ao mundo.

Pesquisas mostram que a representação desse bebê imaginário tem início a partir do terceiro mês de gestação, o que coincide com o fim do período com maior risco de abortos espontâneos2.

No entanto, a idealização do bebê pode ser prejudicial na integração deste como novo membro de uma família. 

Nesse caso, a quebra de expectativa pode ser pior do que não ter expectativa alguma, pois ela afeta diretamente os vínculos familiares, prejudicando o desenvolvimento da criança e suas relações ao longo da vida. 

Além disso, a idealização exacerbada de um bebê pode gerar ansiedade e estresse, o que não é saudável para a gestante.

Portanto, a criança que está para chegar deve ser uma incógnita e esse tema deve ser abordado pelo profissional da parentalidade de forma preventiva. 

Por outro lado, quando a idealização já ocorreu, também é preciso estar preparado para lidar com as consequências desse episódio. Oriente a puérpera e seus familiares para a compreensão de que o amor incondicional não é um sentimento, mas uma intenção da parentalidade.

  • Famílias constituídas por um casal parental 

De acordo com as vivências pessoais, a parentalidade pode ser compreendida de diferentes formas, considerando principalmente como foi a infância e a adolescência de cada um.

Assim, na relação do conjugal pode haver uma divergência de perspectiva quanto a criação de um filho e, nesses casos, conflitos parentais são mais comuns do que se imagina.  

No entanto, é preciso que o casal entre em concordância para que a parentalidade seja desenvolvida de forma saudável e harmoniosa, o que reflete também no bem-estar da criança.

Dessa forma, o profissional da parentalidade deve orientar os pais nas adaptações e concessões necessárias para o bem comum, a partir: do caráter do relacionamento – parceiros, namorados, casados, etc. –; dos planos de constituição familiar do casal. 

Também é importante lembrar que, na abordagem e resolução desse tema, a criança deve ser colocada como prioridade sempre.

  • O desenvolvimento da avosidade 

Para cada filho existem novos avós. Isso quer dizer que o desenvolvimento da avosidade também passa por uma série de transformações, o que exige uma revisão no relacionamento entre avós, filhos e netos.

A depender do vínculo afetivo entre os familiares, pode haver conflitos pela participação em excesso por parte dos avós, atrapalhando o desenvolvimento da parentalidade, ou pela sua isenção total no exercício da avosidade, por exemplo.

Além disso, é preciso considerar que atualmente a avosidade tem chegado para pessoas cada vez mais novas, o que exige um equilíbrio entre as atividades do dia a dia moderno e o desempenho dos avós na sua função familiar.

  • As perdas recorrentes na maternidade

No ciclo gravídico-puerperal, o corpo da mulher passa por muitas transformações e isso afeta a sua autopercepção de forma brusca. Isso significa que a maternidade provoca grandes mudanças na vida da mulher, o que pode causar sofrimento tanto na gestação quanto no pós-parto.

Da mesma forma, as relações sociais da mulher também são impactadas. É muito comum, por exemplo, que as pessoas se afastem de puérperas para que elas desenvolvam sua recém maternidade. 

No entanto, esse afastamento pode gerar uma sensação de abandono e solidão, o que não é bom para a sua saúde mental da mulher. Além disso, todas essas mudanças podem gerar estresse, ansiedade e conflitos generalizados.

Veja abaixo ações que você pode tomar como profissional da parentalidade para ajudar famílias no processo de adaptação para a chegada de uma criança.

Agir efetivamente para auxiliar nas transformações familiares

Cabe aos psicólogos parentais evitar o adoecimento de famílias, principalmente de mães e bebês, que são os verdadeiros protagonistas de todo o processo gestacional.

Como abordagem preventiva, o pré-natal psicológico (PNP) visa a humanização do ciclo gravídico puerperal, que começa na gravidez e se estende ao desenvolvimento da parentalidade após o nascimento do bebê. 

Essa é uma forma de atendimento de caráter profilático e psicoterapêutico. Além disso, é complementar ao pré-natal convencional, que é obrigatório e tem como objetivo acompanhar o desenvolvimento biológico da gestante e do feto durante a gestação.

Dentre os adoecimentos psíquicos que ocorrem durante uma gestação, o pré-natal psicológico tem como foco a prevenção à depressão pós-parto (DPP), que afeta cada vez mais puérperas no Brasil.

Segundo Arrais3, a depressão pós-parto pode ser definida como um episódio depressivo não psicótico, que se inicia na mulher em até doze meses após o parto.  Para a psicóloga e pesquisadora da parentalidade, a depressão pós-parto está associada a sentimentos de decepção e frustação, que podem surgir diante da realidade que a vivência da maternidade impõe para a grande maioria das mulheres.

A abordagem do pré-natal psicológico cabe única e exclusivamente a psicólogos. Quanto aos outros profissionais da parentalidade, é seu dever considerar aspectos emocionais quando se trabalha com um público da parentalidade e orientá-lo para obter o apoio adequado, se necessário. 

 

Referências 

1 – MALDONADO, Maria Tereza. Escola da Parentalidade – Atendimento à parentalidade. Disponível em: https://escoladaparentalidade.com.br/atendimento-a-parentalidade/. Acesso em 17 de jun de 2021.

2 – TAVARES, Renata Corbetta. O bebê imaginário: uma breve exploração do conceito. Revista Brasileira de Psicoterapia. (online) 2016; 18, p. 68-81. Disponível em: https://rbp.celg.org.br/detalhe_artigo.asp?id=191 

3 –ARRAIS, Alessandra da Rocha; MOURÃO, Mariana Alvez; FRAGALLE, Bárbara. O Pré-Natal Psicológico como Programa de Prevenção à Depressão Pós-Parto. Saúde Soc. São Paulo, 2014, v. 23, n. 1, p. 251-264. Acesso em 17 de jun de 2021. Disponível em: https://www.scielo.br/j/sausoc/a/ScBXWZFtCyVFXXfzs8jQRmp/?format=pdf&lang=pt 

 

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