O luto perinatal e a pandemia: estamos exercendo nosso papel profissional?

casal em situação de luto perinatal
Escola da Parentalidade

Entenda como abordar o luto perinatal no atendimento de pais e famílias durante a pandemia da COVID-19. 

Os impactos da pandemia nas gestantes

A COVID-19, como enfermidade epidêmica de ampla disseminação, é responsável por muitas mortes no Brasil e no mundo, numa situação grave que perdura há mais de 1 ano.

Segundo o Ministério da Saúde1, são considerados como parte do grupo de risco para o agravamento da doença: portadores de doenças crônicas, como diabetes e hipertensão, asma, doença pulmonar obstrutiva crônica, e indivíduos fumantes, acima de 60 anos, gestantes, puérperas e crianças menores de 5 anos.

Pesquisas mostram que, em 2020, uma média semanal de 10,5 gestantes e puérperas morreram de covid. Já em 2021, a média de óbitos mais que dobrou, chegando a 25,8 mortes semanais até 10 de abril2.

A principal hipótese sobre o risco ocasionado pela covid em gestantes e puérperas tem como base a imunomodulação do organismo durante o ciclo gravídico-puerperal, que se desenvolve para manter o feto, mas reduz seu desempenho para defesa contra doenças em geral.

Dito isso, luto e ansiedade se tornaram temas abordados com recorrência pelos profissionais da parentalidade durante a pandemia. Infelizmente, cada vez mais gestantes apresentam crises de ansiedade e depressão como consequência do isolamento e do risco de contraírem a doença.

Portanto, no apoio psicológico à gestante e sua família, é preciso transformar toda essa dor em força, pois os obstáculos são muitos até a chegada do bebê e, posteriormente, a segurança de toda a população contra o vírus.

O luto perinatal e as formas de lidar com a perda

Em geral, o luto é um processo complexo de pesar que se manifesta logo após uma morte.  Sua principal expressão se dá por um sentimento de tristeza profunda e desamparo, que são geralmente compreendidos como formas de enfrentamento e superação a uma grande perda. 

Da mesma forma, quando ocorre um óbito fetal ou de recém-nascido, esse processo é chamado de luto perinatal.

Diante da perda de um bebê, antigamente era comum que pais e familiares, bem como os profissionais da enfermagem e obstetrícia, optassem pelo silêncio e racionalização da morte, o que impedia o processo de luto.

Por conta desse costume antiquado, o luto perinatal é ainda hoje atravessado por constrangimentos, como um sentimento a ser evitado, seja pela sensação de impotência diante da situação ou pela falta de amparo provocada pelo senso comum. 

No entanto, é preciso lidar com a perda de uma vida – mesmo as mais breves – de forma honrosa para que o choque seja superado e o sofrimento não se transforme em um adoecimento psíquico.  

Assim, é função do profissional da parentalidade acolher as famílias que enfrentam o luto perinatal, principalmente durante a pandemia, e desenvolver modos de processar o sofrimento dessa perda. 

A importância dos rituais de despedida

Antes da pandemia, o conforto nos períodos de luto enfocava a proximidade e o acolhimento entre familiares e amigos. 

No entanto, a pandemia impôs algumas regras que impedem o contato direto com outras pessoas, bem como a realização dos rituais de despedida – os velórios, por exemplo, ficaram mais curtos, com limite de pessoas e menor tempo de duração. 

Além da despedida do corpo não se realizar de forma adequada, a carência de abraços torna o processo do luto mais doloroso e solitário, até mesmo mais duradouro.

Assim, para suprir a necessidade desse apoio, o contato entre as pessoas passou a ser intermediado pelas tecnologias da comunicação, as quais proporcionaram encontros virtuais que modificaram o luto – missas de sétimo dia e velórios transmitidos ao vivo, por exemplo.

O importante é encontrar formas possíveis de lidar com o luto, seguindo os protocolos contra COVID-19 e atendendo as necessidades das famílias enlutadas.

O profissional da parentalidade e suas limitações durante a pandemia

Em tempos de pandemia, cabe ao profissional da parentalidade se adaptar ao contexto digital para que seu trabalho com famílias possa ser realizado de forma eficiente.

No que se refere ao luto perinatal, a morte de uma criança é sempre um grande impacto para as famílias e o profissional da parentalidade deve criar espaços de fala sobre esse sofrimento, que infelizmente ainda não é tão discutido quanto deveria ser.

Nesse sentido, a sensibilidade deve ser o guia para o atendimento de famílias em luto perinatal. Veja abaixo os temas mais comuns que surgem para lidar com essa perda:

  • O referencial religioso da família – mesmo que os rituais tenham sido modificados pela pandemia, a perda de um ente querido pode ser amparada pela fé. Nesses casos, acolha a crença de quem procura sua orientação e atue na relação da pessoa com sua espiritualidade.
  • Incentivar o cultivo das lembranças – o objetivo do luto é processar uma morte, e não esquecer aqueles que morreram. Deixe claro que a pessoa que se foi deve continuar viva na memória de quem fica.
  • A dor do homem também deve ser considerada – é muito comum que o pai não tenha espaço para expressar seus sentimentos nessa situação. No entanto, o homem também é vulnerável e suas fragilidades devem ser acolhidas pelo profissional da parentalidade.
  • Simbolização da perda – essa é uma forma de expressar os sentimentos promovidos pelo luto e marcar o final de um ciclo vital, bem como o início de outro. Plantar uma árvore, por exemplo, pode ser uma forma de simbolizar e ressignificar a perda de um filho.

Como profissional da parentalidade, é seu dever auxiliar a passagem por todas as faces do luto considerando o que é melhor para aquela família, em especial.

Nesse contexto, a atuação do profissional tem caráter preventivo, pois o luto prolongado ou a negação ao luto pode ocasionar psicopatologias, bem como fantasias e culpa sobre a morte do bebê.

Assim, a abordagem deve ser feita não somente com as mães, mas também com o pai, a família e a equipe de saúde responsável pelo parto. Dessa forma, a elaboração do luto perinatal precisa ocorrer para que se retorne à boa saúde mental e ocorra uma reestruturação psíquica em todos os que sofreram com essa perda3.

Referências 

1 – BRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria de Vigilância em Saúde. Guia de Vigilância Epidemiológica – Emergência de Saúde Pública de Importância Nacional pela Doença pelo Coronavírus 2019. Vigilância de Síndromes Respiratórias Agudas. Disponível em: <https://portalarquivos.saude.gov.br/images/af_gvs_coronavirus_6ago20_ajustes-finais-2.pdf> Acesso em: 21 de jun de 2021.

2 – BOEHM, Camila. Covid-19: mortes de grávidas e puérperas dobram em 2021. Agência Brasil. Disponível em: <https://agenciabrasil.ebc.com.br/saude/noticia/2021-04/covid-19-mortes-de-gravidas-e-puerperas-dobram-em-2021> Acesso em: 21 de jun de 2021.

3 – MUZA, Júlia Costa; SOUSA, Erica Nascimento de; ARRAIS, Alessandra da Rocha e IACONELLI, Vera. Quando a morte visita a maternidade: atenção psicológica durante a perda perinatal. Psicol. teor. prat. 2013, vol.15, n.3, p. 34-48. Disponível em: <http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1516-36872013000300003&lng=pt&nrm=iso>. ISSN 1516-3687.

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