Além dos sintomas físicos experimentados durante uma gravidez, a mulher também passa por diversas mudanças hormonais e emocionais.
Entenda como o pré-natal psicológico (PNP) pode minimizar essa sobrecarga e beneficiar a gestante e sua família através do acompanhamento terapêutico.
O que é PNP?
O pré-natal psicológico (PNP) é um método aplicado por psicólogos, que são profissionais da parentalidade, e visa a humanização de todo o processo gestacional, que começa na gravidez e se estende ao desenvolvimento da parentalidade.
Na prática, as sessões começam desde o início da gestação e podem permanecer até seis meses após o parto, para acompanhamento da amamentação e adaptação da mãe na sua recém maternidade.
O atendimento tem caráter psicoterapêutico e, principalmente, psicoeducativo e é complementar ao pré-natal convencional, que é obrigatório e serve para acompanhar o desenvolvimento biológico da gestante e do feto durante o período gestacional.
No entanto, ambos os pré-natais são igualmente necessários para a saúde física e mental da gestante, do bebê e de toda a sua família.
A importância do pré-natal psicológico
Nesse sentido, o exercício de preparação psicológica se faz importante porque, durante a gravidez, a mulher vivencia uma reestruturação interna e subjetiva, que modifica suas formas de ser e pensar.
Isso significa que a gestação afeta os modos como a mulher identifica o mundo ao seu redor e compreende suas emoções e as mudanças que estão acontecendo no seu corpo.
Além disso, ela precisa lidar com o desenvolvimento da maternidade e o cumprimento de novas funções maternas, que até então eram desconhecidas.
Sendo assim, o objetivo do pré-natal psicológico é preparar a mulher, de modo informativo e acolhedor, para suas futuras descobertas e enfrentamentos sobre o parto, a amamentação e a parentalidade.
Vale lembrar que a chegada de um bebê também impõe uma nova identidade familiar, o que afeta diretamente as relações interpessoais e sociais de todos os envolvidos nesse processo de transformação.
Nesse sentido, a rede de apoio da gestante também pode se beneficiar do pré-natal psicológico junto aos profissionais da parentalidade.
Como é o atendimento na prática?
A gestação não é fácil, isso está claro. A mulher, como centro desse processo, experimenta novas emoções e conflitos internos que podem causar medo, angústia, dor e sofrimento.
Nesse período de incertezas, cabe ao profissional do pré-natal psicológico dar suporte adequado a partir de um modelo de assistência específica e personalizada.
Portanto, o atendimento também deve ser psicoeducativo, pois o objetivo principal é orientar, informar e instruir a gestante e sua família para a chegada do bebê.
Isso quer dizer que um bom suporte emocional também inclui discutir soluções para problemas como: a idealização da maternidade, as mudanças nos papeis sociais e familiares, a possibilidade de transtornos depressivos e ansiosos, o estresse do parto e pós-parto, a idealização do bebê, entre outros.
Na prática, o pré-natal psicológico se concretiza através de encontros, geralmente em pequenos grupos ou individuais, que visam a preparação para a maternidade e a paternidade a partir de diálogos abertos.
A troca de experiências é fundamental nesse processo, pois a família deve se sentir acolhida e preparada para o exercício da parentalidade.
Isso significa que a escuta também deve ser uma prática comum nesses encontros, visto que o conhecimento prévio de um possível problema pode facilitar a sua solução.
No entanto, é preciso estar atento para que a previsão dos desafios a serem enfrentados não se torne mais uma preocupação que aumente o estresse da gestante.
Os benefícios do pré-natal psicológico
Também é importante destacar que a saúde física e mental da gestante afeta diretamente o desenvolvimento do seu bebê.
A amamentação, por exemplo, pode ser dificultada pelo estresse e fadiga da puérpera, se tornando um desafio ainda maior.
Por isso, durante o pré-natal psicológico, o profissional também deve acompanhar a saúde física da gestante, pois as mudanças corporais e hormonais também afetam sua saúde mental e, consequentemente, impactam a realização das novas práticas impostas pela maternidade.
Também cabe ao profissional da psicologia compreender os sentimentos que a mulher vivencia durante a gravidez e o desenvolvimento da maternidade. Essa atenção faz com que a gestante desenvolva confiança na sua própria percepção e sensibilidade.
Nesse sentido, o pré-natal psicológico atua de forma preventiva em transtornos como a depressão pós-parto e baby blues.
Além de prevenir acometimentos psíquicos, um dos benefícios do acompanhamento durante uma gravidez é desmistificar alguns temas que serão importantes no desempenho da parentalidade, como os cuidados que o bebê e a amamentação requerem, a idealização da maternidade, o vínculo entre os pais e o recém-nascido, e assim por diante.
A prevenção à depressão pós-parto (DPP)
Como o atendimento é preventivo, existe uma preocupação no pré-natal psicológico sobre a prevenção da depressão pós-parto, como destaca Alessandra Arrais em seu artigo “O pré-natal psicológico como programa de prevenção à depressão pós-parto”.
Segundo Arrais, a depressão pós-parto pode ser definida como um episódio depressivo não psicótico, que se inicia na mulher em até doze meses após o parto. Alessandra Arrais defende que a depressão pós-parto está associada a sentimentos de decepção e frustação, que podem surgir diante da realidade que a vivência da maternidade impõe para a grande maioria das mulheres ( Arrais, 2021).
Os casos de DPP aumentam cada vez mais no Brasil e pode acometer principalmente mães primíparas (de primeira viagem), solteiras, sem suporte emocional, que já possuem um histórico de episódios depressivos e/ou de traumas relacionados a gestações anteriores.
Para o Ministério da Saúde, essa condição afeta mulheres de todas as idades, classes sociais e etnias, sendo a quantidade de filhos preexistentes um fator não agravante para o desenvolvimento da depressão pós-parto.
A depressão pós-parto pode dificultar o desenvolvimento social e afetivo da criança, o que pode se estender até a adolescência.
Dessa forma, é preciso atuar com profissionalismo para prevenir adoecimentos psíquicos de gestantes de baixo ou alto risco, sendo os fatores de proteção da DPP:
- o apoio de outra(s) mulher(es),
- apoio familiar e profissional,
- suporte social adequado,
- suporte emocional do companheiro (ou companheira)
- preparação física e psicológica para o exercício da maternidade.
Ainda é possível prevenir a depressão pós-parto desenvolvendo hábitos, como: realizar atividades físicas (com a supervisão de um profissional adequado), manter-se em uma dieta saudável (evitar cafeína, álcool, refrigerantes e chás energéticos e fazer o acompanhamento com um profissional capacitado) e evitar o isolamento social (em tempos de pandemia, é preciso evitar o isolamento físico, evitando aglomerações, mas o contato social, que pode ser estabelecido, inclusive, virtualmente, segue sendo muito importante para a gestante).
Além da depressão pós-parto, os hábitos descritos acima também podem intervir e minimizar os sintomas causados pela ansiedade, o estresse e a fadiga durante toda a gestação.
O uso de medicamentos também pode ser recomendado em alguns casos, de acordo com o estado de saúde mental da gestante. No entanto, lactantes devem se atentar e consultar um médico sobre o uso de antidepressivos, visto que alguns possuem substâncias que podem afetar o leite materno e, por isso, não devem ser recomendados.
Abordagens, metodologias e teorias no pré-natal psicológico
É importante ressaltar que o pré-natal psicológico é uma prática psicoterapêutica e, principalmente, psicoeducativa, o que abre um leque de abordagens, metodologias e modelos teóricos possíveis no atendimento da gestante e sua família
Em todo caso, o atendimento é preventivo e geralmente feito em pequenos grupos, o que também não impossibilita a atenção individual para as particularidades de cada participante.
Sendo assim, ao longo das sessões também é possível utilizar mais de uma das abordagens citadas abaixo para dar um atendimento mais personalizado e específico, não só em função da necessidade da gestante e sua família, mas também para melhorar o processo terapêutico.
Algumas abordagens e correntes teóricas mais utilizadas são a Terapia cognitivo comportamental (TCC), Psicodrama, Gestalt-terapia, Arteterapia, Psicanálise, Terapia do esquema.
Curso Pré-natal Psicológico na Prática
A Escola da Parentalidade oferece o curso Pré-natal Psicológico na Prática a psicólogos que desejam apoiar gestantes a prevenirem adoecimentos psíquicos através do Modelo Arrais, desenvolvido pela Ph.D. Alessandra Arrais.
Além de elaborar e ministrar o curso, Alessandra Arrais também faz parte da equipe da Escola da Parentalidade.
Veja mais informações sobre o curso aqui.